Engenheira do Ambiente
Presidente do Grupo de Estudos do Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA)
Entrevista concedida ao aluno Bruno Cardoso
Julho de 2018
A Professora KarinDubskydoTrinityCollege, Dublin, que concebeu o projeto, convidou o GEOTA, em 1989, para promover o Coastwatchem Portugal. Na altura havia uma lacuna de dados que caracterizassem o litoral português do ponto de vista da poluição a que estava sujeito, desde resíduos até às descargas ilegais de efluentes, a biodiversidade e as ameaças do litoral. Era um projeto inovador porque envolvia diretamente os cidadãos na observação e proteção do litoral, promovendo a sensibilização e a educação ambiental, de forma nunca experimentada. A metodologia estava a ser afinada para cada país participante e permitia a comparação entre eles. O GEOTA considerou o convite um desafio aliciante, e uma oportunidade para promover a cidadania ambiental sobre as questões do litoral e do mar.
O Costwatch é o programa de educação ambiental mais longo, em vigor em Portugal. Centenas de milhar de cidadãos percorreram o litoral português no continente e nas ilhas e ajudaram a conhecer melhor o litoral, durante quase três décadas. Contribuíram para identificar problemas emergentes no litoral e as maiores pressões humanas sobre este ecossistema.
Estabeleceram-se parcerias entre ONGs, Municípios, Escolas, instituições e outras entidades que apoiam, divulgam e promovem o Projeto Coastwatch. Estas parcerias são muito importantes para a existência deste projeto. Muitas recolheram os resíduos que encontraram, limpando a praia. Aprenderam sobre os seres vivos que habitam o litoral – zona interface entre a terra e o mar.
A participação das escolas é muito importante e tem vindo a crescer ao longo dos anos. Todos os alunos e todos os professores podem participar na monitorização ambiental Coastwatch pois existem materiais pedagógicos adequados aos diferentes níveis de escolaridade e a equipa Coastwatch do Geota poderá acompanhar e apoiar as saídas de campo no litoral. O Projeto Coastwatch fomenta a pluridisciplinaridade pois integra objetivos de vários programas curriculares, promove o contato com a natureza e fomenta o trabalho de grupo. Após a saída de campo coastwatch os alunos poderão apresentar os resultados obtidos à restante comunidade educativa e/ou a toda a comunidade e aos media locais.
Algumas escolas destacam-se pelo seu dinamismo e pela forma como se organizam para aumentar o conhecimento dos alunos sobre a literacia do litoral e do mar, através da realização de atividades diversas, ao longo do ano letivo, no âmbito de diferentes disciplinas, como é o Caso da Escola Secundária de Camões.
Potenciar a divulgação do projeto, na imprensa escrita, rádios locais, youtube e nas redes sociais, de acordo com as diferentes faixas etárias e tipos de participantes (facebook, instagram, twiter).
Com base nos resultados obtidos na monitorização Coastwatch, promover uma maior sensibilização junto de todos os cidadãos e principalmente nos órgãos decisores para mudar paradigmas de consumo e utilização de produtos, e.g. plásticos descartáveis. Fomentar praticas ecológicas em todos os estabelecimentos (restauração, alojamentos e outros equipamentos) de zonas costeiras.
Destaco:
• Ordenamento do território terrestre e marítimo. Neste momento está em processo de discussão pública o Programa Nacional de Ordenamento do Território e o Ponto de Situação sobre o Ordenamento Marítimo.O ordenamento do território condiciona o uso racional dos recursos naturais, os incêndios florestais, a produção de gases de efeito de estufa, a mobilidade, etc. Em suma condiciona o metabolismo das comunidades, das cidades, dos cidadãos.
• Alterações Climáticas. É essencial promover políticas públicas coerentes de energia e mobilidade. É necessário investir em eficiência energética e na produção de energias renováveis de baixo impacto ambiental e evitar a construção de grandes barragens hidroelétricas inúteis e criar sistemas integrados de transportes que privilegiem transportes inteligentes com baixos impactes ambientais por passageiro quilometro, com recurso a transportes públicos e a modos suaves de mobilidade, como a bicicleta e o andar a pé.
• Conservação da Natureza. É determinante dar a conhecer o património natural e o valor dos ecossistemas para que cada cidadão compreenda a importância de desenvolvermos uma rede de áreas protegidas ou classificadas. Ecossistemas com maior biodiversidade são mais resilientes e, por isso, permitem maiores equilíbrios dos quais depende a sobrevivência humana.
• Agricultura sustentável. A agricultura é uma das atividades mais importantes para a sobrevivência humana. Atualmente é uma dasatividades mais poluentes e que consome mais recursos naturais. Ao mesmo tempo tem um grande potencial para promover a biodiversidade se for desenvolvida com recurso a práticas ou modos de produção mais sustentáveis.
“Deixe aqui outros assuntos que gostaria de mencionar.”
• Cidadania ambiental. Um país desenvolvido cria cidadãos com conhecimento dos seus direitos e deveres e com uma consciência ambiental atuante. Não basta saber é urgente agir para cumprir as metas da Agenda 2030 e respetivos objetivos de desenvolvimento sustentável.
• Consumo Sustentável e “decrescimento sustentável”. Para além da importância das escolhas do consumidor deverem ser adequadas do ponto de vista da sua sustentabilidade é necessário criar nos cidadãos a consciência da necessidade de sermos consumidores mais inteligentes e eficientes de forma a satisfazer as mesmas necessidades com redução de consumos inúteis.Agenda 2030| “Transformando o nosso Mundo: a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030”. Este documento aprovado sob a égide das Nações Unidas na cimeira da ONU, em Nova Iorque (EUA), de 25 a 27 de setembro de 2015, que reuniu os líderes mundiais, define 17 Objetivos de Desenvolvimento Sutentável. A Agenda 2030 resulta do trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo para criar um novo modelo global para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o ambiente e combater as alterações climáticas. Os ODS, devem ser implementados por todos os países e que abrangem áreas desde: o acesso equitativo à educação e a serviços de saúde de qualidade; a criação de emprego digno; a sustentabilidade energética e ambiental; a conservação e gestão dos oceanos; a promoção de instituições eficazes e de sociedades estáveis e o combate à desigualdade a todos os níveis. Portugal participou de forma proactiva no processo de definição da Agenda 2030, com destaque para redação dos objetivos relacionados com promover sociedades pacíficas e inclusivas, erradicar todas as formas de discriminação e de violência com base no género e com a conservaçãodos mares e oceanos, gerindo os seus recursos de forma sustentável.
É importante que as respetivas metas sejam conhecidas suficientemente pelos cidadãos. Infelizmente não é o caso.